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  • Foto do escritorLidice Meyer

Ter-a-pia cheia de louça? Melhor lavar a roupa suja!


Impressiona-me que em pleno século XXI, passados mais de 500 anos da Reforma, as mulheres ainda sofram com preconceito e discriminação dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil! Após mais de cinco séculos da publicação de Lutero que enfatizava o sacerdócio universal dos crentes, ele que colocava sua esposa Katharina como alguém que deveria ser lembrada sempre que seu nome fosse mencionado assim como Calvino que enaltecia sua esposa por suas muitas qualidades, há protestantes que negam que uma mulher possa ser usada por Deus. Os Reformadores foram homens que não tiveram receio de compartilhar do seu ministério com suas esposas e com tantas outras mulheres que atuaram ativamente como verdadeiras colaboradoras/auxiliadoras nos primórdios do protestantismo.

A resolução do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil de 22-28/julho/2018 que afirma “Excepcionalmente, as mulheres podem pregar, quando não houver disponibilidade de oficiais para pregar e sempre sob a autoridade do pastor”, reflete a mentalidade retrógrada e preconceituosa de alguns que exercem o pastorado desta igreja. Pastores que que traçam comentários preconceituosos, discriminatórios e, portanto, medíocres, como este: “essas mulheres precisam de terapia: ter a pia cheia de louça para lavar”.

Não se trata aqui de defender a ordenação feminina! Trata-se de exigir o respeito devido às mulheres presbiterianas que têm como lema ser “verdadeiras auxiliadoras, incansáveis na luta, firmes da fé e vitoriosas por Cristo Jesus” Auxiliadoras!!!! O termo bíblico do hebraico, ‘ezer, aponta para uma colaboradora, ajudadora da mesma natureza do homem. Auxiliadora Idônea, não inferior, mas semelhante, igual!

Sinto-me indignada com o comentário medíocre citado acima e ainda mais por saber que o mesmo foi proferido por um pastor, formado no seminário JMC. O diretor do Seminário JMC em uma postagem no Facebook em 3/8/2018, tentou explicar a resolução do S.C., porém ressaltou ainda mais a discrepância dessa resolução. Diz ele que a resolução não atinge o trabalho feminino da igreja pois se refere apenas a cultos e “as reuniões de círculo, departamentais, plenárias, reuniões de oração, breves momentos devocionais não são culto.” Interessante, pois a CE 2019 DOC LXXXIX define que “o culto público consta ordinariamente de leitura da palavra de Deus, pregação, cânticos sagrados, oração e ofertas” (PL-IPB art.8º).

Sou presbiteriana de coração e mente. Entrei na Sociedade Auxiliadora Feminina da IPB (SAF) aos 15 anos de idade e participei ativamente até pouco tempo. Fui palestrante convidada em um Congresso Nacional da SAF e no I Encontro Nacional da Mulher Presbiteriana. Conheço profundamente a dinâmica da SAF e me pergunto em qual das atividades citadas acima não ocorre todos os itens definidos como culto público? Repito: não se trata de questionar a ordenação feminina! Trata-se de estar indignada com o uso que alguns pastores fazem da resolução do S.C. para justificarem seus preconceitos ou seus medos. Trata-se de utilizarem-se desta resolução para coibir a atuação de missionárias e mulheres na direção de cultos. É fato conhecido que em alguns locais do Brasil são as mulheres que constituem 99% de algumas igrejas e que estas conduzem estas igrejas na falta de uma direção masculina e da presença de um pastor, tanto que a resolução cita “quando não houver disponibilidade de oficiais”. Parece-me que segundo o entendimento de alguns, Deus só usa mulheres quando não há outro jeito. Estamos abaixo até da mula de Balaão! Graças a Deus, Ele não se prende a uma resolução escrita por homens e continuará a usar tanto homens e mulheres quando e como quiser.

Precisamos todos, mulheres principalmente, rever estas posturas e refletir sobre qual futuro queremos para a Igreja Presbiteriana do Brasil.

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