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  • Foto do escritorLidice Meyer

CRENTEFOBIA

Atualizado: 1 de set. de 2020


O que é crentefobia? Fobia é medo, é aversão a algo ou a alguém. É possivel ter medo ou aversão a crentes?

Quando eu era criança, ouvia sempre histórias sobre o tempo em que meu avô era pastor em Minas Gerais. Era uma época em que ser crente era ter palavra, ter crédito na venda. Havia até um hino que dizia “Direi ao mundo que sou crente, não me envergonho de o dizer...” Eu não tinha vergonha de ser crente. Tinha orgulho! Quando cheguei a faculdade, em meu primeiro dia de aula de um curso de Biologia o professor disse-me que ali não era o meu lugar. Afinal, faculdade não era para crente. Era para gente esclarecida! Ali eu descobri que ser crente era antônimo de conhecimento e estudo. Mas eu me mantive firme, terminei o curso, terminei meu mestrado e ingressei no doutorado. Fui dar aula em uma universidade confessional. E me deparei novamente com a questão: “Professora, mas a senhora é crente?! Não parece!” Fiquei em choque! Meu Deus! Não estou dando um bom testemunho! Mas a explicação foi esclarecedora, embora triste: “A senhora não é chata como alguns dos pastores que nos dão aula e ficam querendo nos converter. A senhora se preocupa de verdade com a gente!” E foi aí que descobri que ser crente era ser chato e não se envolver com os problemas da sociedade.

O significado da palavra crente foi mudando com o passar do tempo....

O que me espanta é que existe um papel histórico da igreja protestante no Brasil de envolvimento em questões sociais. Papel este que destaco bem no meu livro “Protestantismo Rural – magia e religião convivendo pela fé” e que é bem explícito no "Dicionário Enciclopédico das Instituições Protestantes no Brasil" A igreja protestante contribuiu imensamente para o desenvolvimento educacional e sócio-econômico do país.

Hoje, 1/3 da população brasileira é crente/evangélica. Mas qual tem sido o impacto positivo disto no Brasil?

Temos de fazer um mea culpa. Reconhecer que a crentefobia tem seus fundamentos. O preconceito e a discriminação estão baseados em casos de enriquecimento ilícito, corrupção e problemas com a justiça como os últimos casos de Flordelis e pastor Everaldo.

Não adianta justificarmo-nos fazendo distinções entre os termos crente, evangélico, protestante, cristão, pentecostal, neopentecostal, tradicional, etc. Esta distinção só existe na cabeça dos acadêmicos. Para o senso comum, eles são todos sinônimos. E pior: atualmente são sinônimos de corrupção, hipocrisia e fundamentalismo. Mudar o nome não é resolver a questão; é varrer o problema ara baixo do tapete.

Temos de resgatar a imagem positiva do crente. Isto se faz com atitudes de todos. Não se faz com discursos de ódio na internet. E sim com um envolvimento genuíno e com os problemas da sociedade para que o mundo veja o amor de Deus e não o ódio. Precisamos de cestas básicas, de cobertores no frio, de abrigo, de braços abertos e mãos estendidas ao pobre, ao necessitado, mas também ao carente de afeto e de solidariedade.

Precisamos redescobrir a missão de Cristo, que veio para “anunciar boas novas aos pobres; … para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor.” (Lc 4.17-21).

As lideranças evangélicas, sejam pastores sejam os representantes eleitos precisam se posicionar mais claramente e mais contundentemente a cada denúncia de escândalo, seja ela na área política, jurídica ou econômica. Não acobertar e não justificar, mas denunciar.

O livro de Atos dos Apóstolos (11.26) relata que o nome de cristão ou crente foi utilizado pela primeira vez em Antioquia e atribuído a um grupo de pessoas conhecidas pelas suas ações exemplares de integridade. Só cultivando esta mesma atitude é que poderemos um dia resgatar o valor do evangélico no Brasil e no mundo.

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