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Foto do escritorLidice Meyer

Um Ano Novo de Paz e Liberdade


Enquanto alguns celebram a chegada de 2024, em várias partes do mundo não há motivo para comemoração. Mulheres choram pelos filhos e maridos mortos nas guerras, crianças órfãs e muitas vezes mutiladas têm o olhar perdido sem saber como será o seu futuro. A guerra que assola países como Ucrânia e Rússia, Israel e Palestina não está geograficamente próxima de nós, brasileiros. Mesmo assim, os noticiários e redes sociais trazem constantemente suas imagens para dentro de nossos lares. Mas será que estas notícias têm também entrado em nossos corações? O que temos feito, enquanto cristãos por estas pessoas que sofrem as consequências da maldade e cobiça humanas? Algumas igrejas fizeram reuniões de oração, outras enviaram donativos no início da guerra, mas com o tempo, parece que temos a nossa consciência cauterizada e as imagens que outrora nos causavam tanta dor, passam a ser corriqueiras.


A guerra entre Ucrânia e Rússia já se estende por dois anos. Será que nossa empatia e compaixão também se estendem por tanto tempo? Creio que ainda há muito que pode ser feito. Orar é essencial, mas também podemos e temos que agir.


Talvez seja o momento de revermos as atitudes que mulheres cristãs tomaram quanto à Primeira Guerra Mundial e quem sabe, refletirmos o quanto também hoje poderia ser feito, já que temos a nossa disposição meios que no século XIX não existiam. Se elas que só contavam com os correios e jornais impressos fizeram tanto, o que podemos fazer hoje que temos correio eletrônico, mídias sociais, plataforma de encontros à distância e tanto mais?


Tudo começou no Natal de 1914, quando algumas mulheres alemãs no início da Primeira Grande Guerra se posicionaram em uma carta dirigida às mulheres de todas as nações apelando para a união em uma época que as lideranças mundiais incentivavam a separação e discriminação. Dias depois, outra carta foi publicada incentivando as mulheres de todo o mundo a proteger os seus filhos contra o "ruído vazio" do "orgulho racial barato" que enchia as ruas. Em resposta às cartas da Alemanha, um grupo de 101 mulheres inglesas e americanas publicaram uma carta de promoção da paz que ficou conhecida como a Carta Aberta de Natal. Nela encontramos: “Oramos para que vocês acreditem que aconteça o que acontecer, podemos manter nossa fé na paz e na boa vontade entre as nações; embora tecnicamente em inimizade em obediência aos nossos governantes, devemos lealdade àquela lei superior que nos ordena a viver em paz com todos os homens...Podemos ficar quietas e deixar que os indefesos morram aos milhares, como devem morrer – a menos que nos despertemos em nome da humanidade para salvá-los? Só existe uma maneira de fazer isso. Todas devemos insistir para que a paz seja feita apelando à Sabedoria e à Razão.” E elas não ficaram quietas! No Ano Novo de 1915, um grupo de mulheres de 37 países criou o Comitê Internacional da Mulher pela Paz Permanente para “unir as mulheres de diferentes visões políticas, filosóficas e religiosas de locais e origens variadas, determinadas a estudar e trabalhar para a divulgação dos motivos para a existência da guerra e do esforço permanente pela paz". Até hoje esta organização permanece, com sede em Genebra, com o nome de Liga Internacional de Mulheres pela Paz e Liberdade. Dentre suas conquistas estão a Liga das Nações e a Declaração dos Direitos Humanos.


Um movimento que se iniciou com uma simples troca de cartas entre mulheres cristãs. Se elas conseguiram fazer a diferença no início do século XX, o quanto hoje poderia ser feito com os instrumentos tecnológicos da modernidade? Façamos de 2024 um Ano Novo pela Paz!


Lidice Meyer Pinto Ribeiro          

Doutora em Antropologia, Professora no Mestrado em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona

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