Em uma aldeia, uma rapariga senta-se ao pé de um poço; cântaro ao colo e o olhar a divagar ao longe. Ela acaba de completar doze anos. Parece que foi ontem que brincava e corria pelo pátio entre a casa de seus pais e avós. Não havia preocupações com o futuro. Mas hoje o dia era diferente. Seus pais a haviam procurado e anunciado seu noivado com um jovem da aldeia. José era seu nome. Ela já o havia visto algumas vezes a carregar seus instrumentos de trabalho rumo a Séforis. Parecia-lhe um bom homem. Graças a Deus havia o costume de esperar um ano para que o casamento se concretizasse. Assim ela teria tempo de pensar e organizar tudo, sua mente, inclusive.
Estava assim a divagar quando percebeu uma luz no céu. Voltou-se e viu algo que a marcaria para sempre. Um anjo dirigiu-se a ela, uma simples rapariga de Nazaré com uma notícia surpreendente: ela conceberia o Filho de Deus! Adolescente que era, questionou o anjo e satisfeita com a explicação do milagre, se dispôs a ser o instrumento de Deus para a salvação da humanidade. Um turbilhão de pensamentos e emoções invadiu sua mente e coração. Sua vida nunca mais seria a mesma. Uma gravidez que despertaria suspeitas em todos da aldeia, inclusive do noivo, José. Só uma pessoa poderia compreender o que Maria estava passando: sua prima Isabel, que também experimentava uma gravidez miraculosa.
Quando Deus chama um jovem para uma missão, o difícil não é dizer sim, mas conviver com os desafios desta decisão. Nestas horas eles precisam de uma Isabel a quem recorrer e em quem buscar socorro, conforto e força. Tanto Maria como Isabel são importantes nos planos de Deus.
Lidice Meyer Pinto Ribeiro Antropóloga e Historiadora das Religiões
(Texto publicado no Calendário Inter-religioso 2023, Editora Paulinas, Portugal)
Foto: Pintura do séc. III na Igreja de Dura-Europos, Síria - Maria junto ao poço segundo o Protoevangelho de Tiago. A mais antiga representação de Maria já conhecida.
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