- Lidice Meyer

- 11 de ago.
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O mês de agosto tem sido caracterizado como o mês de conscientização da violência contra a mulher. E não são poucas vezes que a Bíblia e o cristianismo são mencionados como coniventes com esta triste realidade. Mas a verdade é que a violência contra a mulher não é uma característica das sociedades cristãs ou das religiões que seguem a Bíblia. Com raríssimas exceções, em todas as épocas e em todas as culturas a mulher foi submetida a diversos tipos de violência: moral, psicológica, patrimonial, financeira, física ou sexual. A Bíblia, sobretudo o Antigo Testamento, possui histórias de mulheres que sofreram algum tipo de violência masculina, chegando em alguns casos ao feminicídio. Muitas destas histórias ocorrem em um contexto patriarcal que não raramente privilegia o direito do homem em detrimento ao da mulher. O que não se comenta, porém é que na grande maioria dos casos relatados, as suas histórias visam sinalizar um sistema em desequilíbrio.
O pouco conhecimento e a leitura superficial destes textos têm causado há séculos um grande mal à mulher na igreja. A interpretação inadequada do texto bíblico tem muitas vezes sacralizado relações de violência contra a mulher ao invés de gerar conscientização e a busca de um melhor relacionamento entre os gêneros. E assim, se o cristianismo primitivo se pautava na igualdade de gêneros e na dignidade da mulher, isto foi se perdendo no decorrer do caminho até nossos dias.
Nos últimos anos vimos publicadas pesquisas acadêmicas que denunciam o grande número de mulheres cristãs que sofrem violência dentro de suas casas e são orientadas pela liderança da igreja a silenciarem-se em prol da manutenção do casamento. Termos como submissão e obediência pinçados em textos bíblicos são utilizados unilateralmente visando um controle social sobre a mulher que se reveste de culpa quando esta age fora das orientações da igreja a que segue. O choque causado por estas pesquisas foi positivo por dar força e voz a muitas destas mulheres para lutar contra um sistema religioso que naturaliza a violência, favorecer a criação de grupos de apoio e uma maior sensibilidade para se diagnosticar possíveis vítimas silenciosas a tempo de ajudá-las a romper com o mecanismo de violência.
Lidice Meyer
Autora do livro “Cristianismo no Feminino” (editora Mundo Cristão)
