É madrugada ainda no domingo de Páscoa, mas a Vida já venceu a morte: Jesus ressuscitou! Junto a Ele estão mulheres, suas discípulas (Lc 24.9-10). Dentre elas Jesus escolhe uma para testemunhar de sua ressurreição, Maria Madalena, e a envia, apóstola, a todos os discípulos e discípulas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (Mc 16.9-10; At 1.8). Não foi por acaso que Cristo escolheu uma mulher como testemunha da sua ressurreição.
Há milênios que a páscoa tem sido anunciada pela via do feminino. Páscoa: passagem da morte para a vida, ressurreição, renascimento, fertilidade, enfim, vida! No mundo antigo no hemisfério norte a páscoa coincide com a chegada da primavera e com ela ocorre o retorno da vida aos campos e plantações. Era a época das festas e rituais ligados à fertilidade de onde surgiram símbolos imemoriais: flores, ovos e coelhos. A fertilidade da mulher sempre foi associada à fertilidade da natureza e tornou-a parte integrante e essencial nos rituais de páscoa e primavera. As histórias de Ishtar, Isis, Perséfone e Ostera são exemplos de como a mitologia antiga relacionava a força feminina com o retorno a vida na páscoa.
Mesmo no pessach judaico, podemos intuir que foram as mulheres que mais se alegraram pela preservação de seus filhos quando o Senhor passou sobre suas casas marcadas com o sangue do cordeiro. Para a celebração da passagem da morte da escravidão no Egito para a vida na liberdade rumo a terra prometida, foram instituídas duas festas da primavera: pães asmos e das primícias. (Lv 23) A presença e atuação das mulheres se destacam mais uma vez no preparo dos alimentos para estas festas.
Anos mais tarde, embora a Páscoa de Jesus tenha se iniciado em uma refeição com doze companheiros homens, sua prisão, julgamento, condenação e morte foram acompanhadas de perto por mulheres que o seguiam (Mt 27.55-56,61). Mais uma vez são as mulheres que velam nas estações intermediárias entre a morte e a vida, zelando e preparando a terra para aquele que é a Ressurreição e a Vida. A consequência natural é tê-las também como testemunhas da primavera de Deus: Jesus. Páscoa é mesmo assunto de mulher, mas sua mensagem é para todos.
Sobre Ishtar, Isis, Perséfone, Ostera e Maria Madalena, podemos dizer que a consciência, a sabedoria que envolve essas Mulheres é a mesma? Na minha percepção há um 'fio que une' essas histórias em tempos e espaços diferentes, você também sente isso?