Esta semana, no término do Sínodo da Amazônia em Roma, pareceu-me ouvir: “A Amazônia precisa de mães!” Já não é novidade que a presença feminina é maioria na igreja cristã desde o século II. A carta do Bispo Cipriano de Cartago já mostrava isto. A mulher sempre esteve presente em todos os momentos cruciais da história da humanidade e em todos os movimentos de vanguarda. Apesar disto sempre foi relegada a segundo plano na ordem hierárquica da igreja. O contínuo destaque para a existência de doze discípulos homens e para textos pinçados a dedo da Bíblia parece ser justificativa suficiente e plausível. O mesmo apóstolo Paulo tão usado para acobertar atitudes masculinistas destaca e exalta nada menos que nove mulheres no último capítulo de sua carta aos Romanos, considerando-as suas colaboradoras e até mesmo mães espirituais! E não se deve esquecer o valor atribuído às mulheres na formação de seu discípulo, Timóteo. Nos campos missionários, as mulheres são maioria. São elas as que “vestem a camisa” da fé e corajosamente abrem “picadas” nas matas e sertões para semear o evangelho. Algumas como Dorothy Stang chegam a dar a vida por amor ao verdadeiro evangelho de Cristo!
É mais que chegada a hora da Igreja reconhecê-las em seu papel fundamental. Se é a mulher que gera a vida, é dela também que se espera a manutenção desta vida. Em uma igreja moribunda e órfã, urge a presença de cuidadoras, mães, guerreiras em defesa da prole. Se a Amazônia é o celeiro e pulmão do mundo, é também o melhor lugar para o nascimento e o desenvolvimento de uma nova igreja. Uma igreja com cabeça de pai e coração de mãe. A figura, mítica ou não, da Papisa Joana aponta para esta ideia. A conquista da ordenação de diaconisas e de homens casados é o primeiro passo da igreja romana em um rumo já tomado pela igreja ortodoxa. É uma esperança de retorno às origens da igreja una e verdadeiramente cristã, sem acepção de pessoas, etnias, gênero e idade onde como disse Castro Alves, “quebre-se o cetro do Papa, e faça-se dele – uma cruz!” .
O pretexto é o do Sínodo da Amazónia, mas já há muito que a Professora Lidice Meyer nos presenteia com as suas reflexões sobre este tema: o da tradicional ostracização da mulher dos lugares de liderança litúrgica e hierárquica por parte de algumas igrejas cristãs, e não só a Igreja romana. Contrariamente ao que possa parecer, nos casos de Igrejas cristãs em que isso não acontece tão vincadamente, isso é mais fruto de tomadas de posição (correcção de rota) em tempos fundacionais de cada uma, do que propriamente resultado de uma evolução. Agora, sim, parece haver alguma vontade de ler os fundamentos e de lhes dar coerência eclesiástica disciplinar, mas tem-se mostrado tão espinhoso este caminho que nos assalta algu…
Apesar de sua história mostrar um certo grau de misoginia, a igreja tem diante de si a possibilidade de reparar esse erro secular, e reconhecer a ordenação feminina como algo fundamental para a continuidade da sua missão. Oremos pelo papa Francisco para que ele possa continuar a renovar a igreja, apesar de tanta oposição que tem enfrentado.
Na realidade, as mulheres nunca deixaram de atuar na igreja, pois se assim o fosse, esta já teria desaparecido. O que ocorre é que este trabalho é silencioso e sem muito alarde por parte dos dirigentes destas mesmas igrejas!
O mundo precisa de uma atuação mais efetiva das mulheres nas esferas do poder. É um passo ainda longo, mas necessário de ser dado!
Gostei muito do texto!