Um dos mais belos textos da Bíblia está no capítulo 3 do livro de Eclesiastes em que o autor revela que “para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu”: derrubar ou construir, chorar ou rir, prantear ou dançar, espalhar pedras ou ajuntá-las, abraçar ou se conter, procurar ou desistir, calar ou falar, amar ou odiar, lutar ou viver em paz.
Todos os dias de nossas vidas temos escolhas a fazer. Há dias em que temos opções de escolhas completamente opostas. Há dias em que a escolha parece óbvia e outros em que a dúvida é mais forte que a certeza.
Em um mundo cada vez mais globalizado algumas escolhas que fazemos influenciam toda a comunidade planetária. O dia 9 de novembro nos remete a escolhas tão cruciais que nos fazem refletir sobre o futuro que queremos para nós e para nossos descendentes. Dois eventos que ocorreram em Berlim, com 5 décadas entre eles nos levam a pensar sobre nossas atitudes nos dias de hoje.
Há exatos 81 anos, a noite de 9 de novembro ficou conhecida por “Noite dos Cristais” (Kristallnacht), quando em Berlim mais de 1000 sinagogas e 7500 espaços comerciais de judeus foram queimados ou totalmente destruídos, enchendo as ruas de estilhaços de vidros. Casas, hospitais e escolas foram saqueados. Inocentes foram espancados, presos ou mortos. 30.000 judeus foram levados a campos de concentração e 16.000 levados à Polônia cujo governo preferiu se omitir não os recebendo. Após uma semana sem abrigo ou alimento, foram encaminhados de volta aos campos de concentração na Alemanha. Era o início do imenso genocídio efetuado pelo regime nazista.
51 anos se passaram e Berlim se tornou novamente o palco de um acontecimento marcante para a história da humanidade. Em 9 de novembro de 1989, há exatos 30 anos, caiu por terra o símbolo do separatismo e da intolerância: derrubou-se o muro de Berlim. Uma cidade e um povo que viviam separados por quase 3 décadas (1961-1989) se tornaram novamente um só povo, uma só cidade em um país unificado. Como o véu do templo, a cortina de ferro foi rasgada de cima a baixo!
9 de novembro: uma data, dois eventos. De um lado opressão e medo, do outro libertação e alegria. Dois momentos da história nos apontam que não há duas escolhas para a humanidade. Não há espaço para intolerância e violência como ocorreu há 81 anos e é necessário derrubar os muros invisíveis que podem nos separar, sejam religiosos, étnicos, sociais, econômicos ou quaisquer outros. O Teólogo Hans Küng aponta para a necessidade de uma ética global nascida do esforço para o entendimento inter-religioso em nível mundial. O futuro do planeta e da humanidade depende desta nova postura: a abertura para o diálogo e a aceitação do outro. Uma ética universal que transcende as fronteiras das religiões e dos países tornando-nos um só povo, simplesmente Humanos.
Muito pertinente nos trazer à lembrança dois fatos que foram divisores de águas na história da humanidade. Incrível como hoje boa parte da raça humana vive como a galinha: só olha pra baixo e acha que o mundo é o que está ao alcance de seu bico.
Estamos novamente numa encruzilhada, espero que Deus não nos tenha deixado provar o "deserto" ! A História se repete quando não a olhamos com olhos de sabedoria e entendimento! Bem colocado, Dra. Lídice!
Excelente texto Profa Lídice. Naquela época foram os judeus, hoje são os refugiados sírios, venezuelanos, haitianos. Deus sempre nos possibilita oportunidade para sermos solidários e cada vez mais tolerantes num mundo onde cada vez menos as pessoas ouvem, enxergam e percebem umas às outras. Precisamos retomar o sentido de "ser humano" e o respeito, tolerância e amor são as bases para isso.
Me parece, que como brasileiros, não temos uma memória histórica, nem para os nossos próprios atos do passado e como esses dois fatos não são "nossos", na verdade nem sabíamos, entretanto são acontecimentos que pertencem a humanidade e neles nos incluímos. Parabéns pelo artigo, oportuno e necessário.